Camping de Marraquexe

Depois de mais de 500 km de viagem por estradas nacionais, secundárias e secundaríssimas, chegámos a Marraquexe já noite cerrada e a tarefa de encontrar o Parque de Campismo tornou-se ainda mais complicada. Sabíamos que ficava na estrada para El Jadida, ao km 12, mas mesmo assim perdemo-nos. A questão que se punha era... quilómetro 12 a partir do centro de Marraquexe ou do local onde terminava a cidade... se é que se pode determinar exactamente onde termina uma cidade...
Já tínhamos andado uns 15 km e decidimos voltar para trás. Encontrámos o que parecia ser um Parque de Campismo, apróximámo-nos e veio logo um gajo, muito simpático e prestável, abrir-nos o portão. Não havia qualquer luz, estava tudo completamente às escuras e ele desculpou-se logo, dizendo que tinha ido abaixo nesse mesmo dia. Pedimos para dar uma volta de carro pelo parque, que era pequeno e parecia abandonado, e como não vimos qualquer campista decidimos ir embora... um Parque de Campismo Fantasma, era o que nos faltava... aquilo devia estar abandonado e o gajo pôs-se lá a ver se conseguia ganhar algum dinheiro, só podia... Finalmente conseguimos encontrar o verdadeiro Parque de Campismo, instalámo-nos e desmaiámos completamente até ao dia seguinte.
Quando acordámos demos uma volta pelo parque, que não era muito grande, nem tinha muitas sombras, mas era agradável. Ao nosso lado estava uma auto-caravana de matrícula francesa. Em conversa, com o senhor, soubémos que tinha nascido em El Jadida, foi viver para França ainda em criança e vinha agora visitar a terra natal...
Como já é hábito os Parques de Campismo de Marrocos costumam brindar-nos com uma fauna diversificada: patos, gatos, cães, rãs... Em Marraquexe deparámo-nos com uns pavões. Um pavão-macho andou literalmente a "pavonear-se" em frente à nossa tenda, mas com as penas fechadas. Tirámos-lhe algumas fotos, mas não havia meio do gajo abrir o leque...
A fêmea também por lá andou a ver o que se passava. Como não há muitos campistas, quando os há, é motivo de curiosidade...
Passámos três dias em Marraquexe e só no último dia, estávamos nós já a desmontar a tenda para ir embora, o pavão decidiu dar um ar da sua graça e despedir-se em grande...

Cascades d'Ouzoud

Assim que vislumbrámos algo que se parecesse com uma povoação, apareceu logo um gajo que quase nos obrigou a parar e nos indicou o local de estacionamento. Como não víamos nada que se parecesse com umas cascatas, e já tínhamos andado bastante, decidimos aceitar a sua ajuda. Prontificou-se logo para nos mostrar as cascatas. Seguimo-lo por uns caminhos entre oliveiras e figueiras centenárias, de formas estranhas, e começámos a descer.

Ouvíamos o som da água a cair, mas ainda não víamos nada. Até que se ergueu, do nosso lado esquerdo, imponente, a queda de água. A descida até à base da cascata ainda demorou algum tempo. Mais ou menos a meio havia um barzinho com uma esplanada. Fomos vendo as cascatas de quase todas as perspectivas possíveis.

Ao chegarmos lá abaixo, uns barquinhos sui generis, muito enfeitados, passeavam pela lagoa que se formava na base, antes das águas seguirem o seu rumo por entre as montanhas.

Atravessámos uma ponte de madeira, à qual lhe faltavam algumas tábuas, mas que ficava a apenas uns 2 metros da água. Se caíssemos, o máximo que nos podia acontecer era ficarmos encharcados e nadar até à margem. Uma hora antes tínhamos atravessado uma outra ponte, de carro, mas a umas boas dezenas de metros de altitude...

Ficámos deslumbrados a admirar, durante um bocado de tempo, a beleza das cascatas e decidimos começar a subir, pois a tarde já ia longa e ainda tínhamos muitos quilómetros para fazer até Marraquexe. Antes, porém, a foto para a posteridade.
A subida, como é natural, foi bastante mais complicada do que a descida. Apesar de ter sido feita devagarinho, com diversas paragens para mais umas fotos, foi extenuante. Eu cheguei lá acima quase com a língua de fora :-p Havia até quem descansasse a meio da subida...
Vários bares e lojas de artesanato e de suvenires estendiam-se ao longo da encosta. Ao chegarmos lá acima fomos compensados, mais uma vez, com uma paisagem magnífica:

Por caminhos de cabras...

A distracção da paisagem fez-nos deixar passar a cortada para as Cascatas d'Ouzoud, mas não ficámos muito chateados porque vimos no mapa que uns quilómetros mais à frente havia outra. O problema foi que logo nos apercebemos que esta alternativa era pouco mais do que um "caminho de cabras". Uma estrada estreita, mais ou menos alcatroada, pelo meio das montanhas íngremes do Atlas. Foram cerca de 40km que demoraram uma hora e meia a percorrer, só por aí se vê o tipo de estrada. Houve alturas (raras) em que nos cruzámos com 2 ou 3 carros e tivémos, literalmente, de parar, pois a estrada era estreitíssima, não tinha barras laterais e ao nosso lado apenas um desfiladeiro de algumas centenas de metros de profundidade... Atravessámos uma ponte de ferro, com pavimento em madeira, que meteu um certo respeito... é que à medida que o carro passava, ouviam-se as tábuas soltas a saltar...
A certa altura parámos num local para tirar umas fotos. Ali perto uma casa simples cor de barro, à excepção de algumas galinhas à porta, não se via vivalma. Para nosso espanto, de repente, surgiram duas miúdas de cerca de 12/13 anos a pedir "Bonbon, bonbon!". Abri um saco que levávamos no carro, com algumas guloseimas e barras de cereais, e dei-lhes uma mão cheia de rebuçados. As miúdas quase que entraram pelo carro adentro, pela janela, tal era a emoção. Aproveitei para lhes tirar uma foto, ao que elas replicaram logo: "Photo, un dirham". Ah, pois, qualquer marroquino, seja de que parte do país for, mesmo de um local assim recôndito e isolado como este, sabe que pode ganhar uns trocos com os turistas... Ainda tentámos conversar com elas, mas não falavam francês, apenas "Bonbon" e "Photo, un dirham".