Imagens de Mazagão, la cité portugaise

El Jadida / Mazagão

El Jadida foi uma grande e agradável surpresa. A antiga cidade portuguesa de Mazagão é, desde 2004, Património Mundial da UNESCO, graças à fortaleza construída por cerca de 1500 homens, que foram de Portugal, para a concluir em apenas 2 meses. Foi em 1541, a mando do rei D. João III, que temia a Guerra Santa iniciada em Marrocos contra as praças portuguesas.
Começámos o passeio pela cidade partindo do parque de campismo em direcção ao centro da cidade, pelo extenso areal da praia. Era domingo e a praia estava cheia de gente, a maioria a jogar futebol. Eram dezenas de equipas, em campos de futebol improvisados por riscos na areia, algumas mais sofisticadas até tinham equipamento e árbitro... Tomámos o pequeno almoço numa esplanada à beira-mar e dirigimo-nos para a fortaleza.
Ao entrar deparámo-nos logo com um arco com o escudo portugês e, na primeira rua uma placa indica "Rua do Arco", assim como muitas outras ruas dentro da fortaleza, ainda mantém a placa em português, apesar do seu nome, na maioria dos casos, ter sido alterado.
A cidade intra muros é conhecida como "cité portugaise" e os seus habitantes ainda se sentem um pouco portugueses. Numa loja de artesanato conversámos com o proprietário que nos confessou que ele e os seus vizinhos torciam por Portugal em todos os campeonatos europeus e mundiais de futebol e que, nessas alturas, pelas ruas da cité portugaise se viam bandeiras de Portugal.
As muralhas tinham, originalmente, 5 bastiões, mas apenas 4 deles foram reconstruídos depois dos Portugueses terem destruído a cidade, após a sua expulsão pelo sultão Sidi Mohammed, em 1769. O Marquês de Pombal decidiu então a retirada e, depois de arrasarem a cidade, os seus habitantes partiram para o Brasil, onde fundaram a vila de Nova Marzagão, na Amazónia. Este abandono marcou o fim das possessões portuguesas no Norte de África.
A principal rua comercial do interior das muralhas vai dar à "Porta do Mar", onde se carregavam e descarregavam mercadorias trazidas nas caravelas de e para o Oriente.
Mesmo ao lado da porta, entrámos numa porta escura onde, junto à água se cozia pão. Depois de uns dedos de conversa com um padeiro, comprámos-lhe uns pães. Dirigimo-nos à cisterna portuguesa, o principal ex-libris da cidade. Funcionava antigamente como um depósito de armas e foi posteriormente convertida em cisterna, sendo constantemente abastecida de água fresca para que não houvesse o risco de a cidade ficar sem água, na eventualidade de um cerco prolongado.
De estilo manuelino, foi redescoberta por acaso em 1916 quando um lojista derrubava uma parede para aumentar a loja. Constituída por 25 colunas, onde assentam as abóbadas, a cisterna tem ao centro um poço com 3,5 metros de diâmetro que permite a entrada de luz. O reflexo das colunas e das abóbadas na água criam um ambiente misterioso, tendo sido usada por Orson Welles nas filmagens de algumas cenas do filme Otelo, em 1952.
Continuámos o passeio pelas muralha, de onde alguns miúdos se divertiam a mergulhar, sob o olhar atento dos mais pequenos que ainda não se atreviam a saltar daquela altura.
Encontrámos dois miúdos que, num francês literalmente macarrónico, nos falaram de uma gruta e levaram-nos a uma entrada na muralha. Completamente às escuras e com a ajuda de velas que os miúdos providenciaram, levaram-nos por uma escadaria que dava para diversas divisões qe seriam, segundo entendemos, para guardar prisioneiros.
Continuámos a descer e começámos a vislumbrar luz, era uma pequena entrada que dava para o mar e onde mais alguns miúdos se divertiam a mergulhar. Voltámos a subir e, antes de sairmos, démos uma contribuição aos pequenos guias turísticos que já têm olho para o negócio...

O Museu de Marraquexe

O Museu de Marraquexe fica situado no Palácio Dar Menebhi, construído pelo sultão Mehdi Hassan no século XIX.
Depois de várias horas passadas sob o calor abrasador, nas ruas da medina, a entrada no museu foi uma lufada de ar fresco. A colecção do museu em si, não me pareceu nada de muito significativo, apesar de alguns aspectos interessantes. Está disposta em duas alas do museu:
A primeira é a de Arte Contemporânea, com quadros e gravuras de temas marroquinos. Gostei especialmente deste, alusivo à romã, fruto típico dos países mediterrânico.

A outra ala de exposições do Museu tinha uma colecção de objectos diversos, desde moedas, peças de joalharia, cerâmica, trajes, exemplares do corão, etc. A maior parte do tempo dentro do museu foi passada a aproveitar o fresquinho que se fazia sentir, a admirar as portas decoradas, os azulejos zellij e as bacias de mármore ao centro.

O espaço do museu tinha vários sofás brancos onde relaxámos um pouco enquanto nos deliciávamos com a majestosidade arquitectónica e decorativa do interior do palácio.

Depois da visita e do momento de descontracção, fomos até ao café do museu que tinha uma esplanada muito simpática. Depois de mais uma copada de chá de menta, seguimos caminho.

Os souks de Marraquexe

Os souks de Marraquexe são considerados os mais exóticos e fascinantes do Magrebe. Tal como noutras cidades de Marrocos, são organizados segundo o tipo de produtos que comercializam, estando dispostos pelas ruas estreitas da Medina. São locais sempre muito movimentados, e embora sejam pedonais, há que ter muita atenção a motorizadas e bicicletas que por lá circulam... O local ideal para começar uma visita aos souks é a Praça Djemaa el-Fna e a direção ideal a tomar é qualquer uma. Isso mesmo, é ir à deriva, nas calmas, apreciando cada cantinho e cada loja, convivendo com o assédio dos comerciantes, regatear os preços, comprar coisas e disfrutar das cores e cheiros. Ao virar de cada esquina, um souk diferente:
- O souk Addadine: artigos de bronze e cobre
- O souk Chouari: artigos de cestaria, feitos
em fibras de palmeira, e de madeira:
- O souk dos tintureiros: peles de lã e seda tingidas:
- O souk Zrabia: milhares de tapetes
Vêem-se ainda diversas mercearias...

...e uma mistura de lojinhas que vendem de tudo um pouco:

roupas e sapatilhas de marcas bem conhecidas, malas,
bijuterias, brinquedos, etc.
Para além das diversas lojas nas estreitas ruas e pequenas praças dos souks, muitos comerciantes montam a sua própria banca numas caixas de madeira, numa carroça ou mesmo no chão, vendendo, normalmente, frutas e legumes:

Um enorme labirinto... a sorte é que o guia da American Express até tem um mapa dos souks!

Muralhas e portas monumentais

Marraquexe foi fundada pelo sultão almorávida Yussef ben Tachfin, em 1062, e desde essa altura foi defendida por robustas muralhas com fortalezas, que foram prolongadas para sul pelos Almóadas e para norte pelos Sádidas. As muralhas cercam a medina na sua totalidade, limitando os bairros Gueliz e Hivernage. Têm 19 quilómetros de comprimento, 2 metros de espessura e e até 9 metros de altura.
As portas são, na sua maioria, monumentais! Um belo exemplo da arquitectura mourisca é a Bab Agnou, "carneiro negro sem chifres", uma das portas mais majestosas e bonitas de Marraquexe, em pedra esculpida de tons vermelho e de azul acinzentado. A fachada tem camadas alternadas de pedra e de tijolo, rodeando um arco em ferradura. Outra característica da arquitectura almóada são os motivos florais nos cantos e o friso com escrita cúfica que orlam o arco. Esta porta assinalava a entrada principal para o palácio almóada.

(Clicar na foto para ver os pormenores)

Palácio el-Badi

Saímos da Praça Djemaa el-Fna por uma das portas e dirigimo-nos ao Palácio el-Badi, que ficava ali a umas centenas de metros. Este sumptuoso palácio, denominado "o incomparável" (também um dos 99 nomes de Alá), foi mandado construir por Ahmed el-Mansour, como forma de consolidar o seu poder e anular a memória das anteriores dinastias. O Palácio era constituído por 360 salas faustosamente ornamentadas com mármore italiano, granito irlandês, ónix indiano e cobertas de folhas de ouro, o que terá valido a Ahmed el-Mansour o cognome de “o Dourado”.
Depois de derrotar os Portugueses na Batalha dos Três Reis, a 4 de Agosto de 1578, o sultão ordenou a construção deste palácio, perto dos seus aposentos, que seria utilizado para recepções e audiências com embaixadas estrangeiras. A sua construção foi financiada pelos Portugueses vencidos na Batalha e prolongou-se atá à morte do sultão, em 1603. Hoje em dia, o palácio está despojado de toda a riqueza que fez dele uma das maravilhas do mundo muçulmano, pois em 1683, o mulei Ismail demoliu-o e usou os seus ricos materiais para decorar a sua própria cidade imperial, Meknès.
As coberturas faustosas desapareceram por completo, restam as paredes de adobe e alguns, muito poucos, azulejos... Do andar superior do palácio temos uma vista panorâmica sobre a medina de Marraquexe.
Quem se delicia com a sua vista são as dezenas de cegonhas que nele nidificaram e acabam por dar alguma vida e beleza ao local.

A praça Djemaa el-Fna

A praça Djemaa el-Fna é o centro de toda a actividade em Marraquexe e o ex libris da cidade. O seu nome significa "Assembleia dos mortos" pois até ao século XIX, os criminosos eram ali decapitados e as suas cabeças expostas nos portões da cidade, para servirem de exemplo... Porém, Djemaa também significa mesquita e o nome da praça poderá também ser traduzido como "lugar da mesquita desaparecida", como referência a uma mesquita almorávida que terá sido destruída.
Chegámos à praça e ficámos deslumbrados com a sua imensidão. Já havia um movimento bastante considerável, pessoas que a atravessavam, turistas que passeavam e, claro, comerciantes marroquinos. Dezenas de bancas (que eram, na realidade, carroças que para ali eram levadas todos os dias) vendiam, essencialmente, frutos secos e sumo de laranja natural. Apesar de estarmos em finais de Maio e de ainda ser de manhã, a temperatura já ía muito além dos 30 graus e nada melhor que um suminho de laranja bem fresquinho para complementar o pequeno-almoço que já tínhamos tomado no bar do parque de campismo.
Havia ainda algumas pequenas bancas montadas no chão, debaixo de guarda-sóis, onde se vendia plantas medicinais, chás, doces, etc.
A praça tem várias portas que dão para as estreitas ruas da medina e nos levam atá aos imensos souks, os famosos mercados marroquinos. Entrámos por uma dessas portas e fomos descobrir a cidade.
Quando, ao final da tarde, voltámos à praça ficámos quase boquiabertos. A praça estava repleta de gente e completamente transformada:
Encantadores de serpentes
Haja coragem! :) eu não a tive...
Músicos
Malabaristas Os famosos aguadeiros, que há séculos vendiam água fresca sob o calor desértico

Vendedores de tudo e mais alguma coisa

E ainda contadores de histórias, bailarinos, artistas, videntes, entre outros que animam, diariamente, os muitos turistas que visitam Marraquexe. Uma mistura de cores, sons e cheiros indescritível!
Numa parte da praça, ao final da tarde, dezenas de restaurantes (estavam todos numerados e cheguei a ver números 130 e tal) são transportados, diariamente, em carroças. Ao longe vê-se o fumo e sente-se o aroma da comida feita na hora.
Nós comemos no nº1, da Aicha, que foi uma sugestão do excelente blog do João Leitão, que é um guia pormenorizado de Marrocos: marrocos.wordpress.com E não nos deixou nada mal, comemos linguado frito com batatas fritas, pão, azeitonas e legumes com um molho de tomate um pouco picante...
O final da refeição foi triste e fez-nos reflectir, pois tomámos contacto directo com a miséria de Marraquexe. Mal acabámos de comer, um miúdo com uns 5 anos pegou no resto do pão e numa metade de linguado e começou a comer. Ainda nos estávamos a levantar e um idoso colocou todos os restos misturados dentro de um saco de plástico... Estamos habituados a conviver com pessoas que pedem dinheiro na rua, mas em Marraquexe pede-se comida, mesmo. Um bocado de pão, uns restos de batatas fritas ou qualquer coisa que permita aconchegar o estômago e tomar, provavelmente, a única refeição do dia...