Chegada a Chefchaouen

Finalmente no caminho certo, fomos admirando calmamente a paisagem e trocando as primeiras impressões acerca da viagem. De vez em quando, um ou outro sobressalto por causa da condução praticada em Marrocos. Ainda dizem que os portugueses conduzem mal... Há centenas de Mercedes azuis, todos já com uns valentes anos em cima, que fazem os trajectos entre as cidades e vão apanhando quem calha, ou melhor, quem cabe. É vê-los a abarrotar com seis ou sete pessoas lá dentro, sem contar com o condutor, entram uns, saem outros e prosseguem viagem pelas estradas fora. Como o serviço de transportes públicos não é dos melhores, andar de táxi é a solução mais económica, pois cada um paga por si e pelo seu trajecto. No percurso entre Tetouan e Chefchaouen, a polícia mandou-nos parar duas vezes, são brigadas que estão nas estradas a cada escassa dezena de quilómetros, com um sinal que indica, em árabe e em francês, "Adouane". Temos de abrandar e eles, normalmente mandam seguir, mas se poderem alegar que vinhas em excesso de velocidade, chamam-lhe um figo..

Chefchaouen ao domingo, ao final da tarde, é um tanto ou quanto confuso, pois anda toda a gente na rua. Andámos por lá às voltas à procura de um hotel, do qual já tínhamos o contacto, até que avistámos o "Hotel Bonsai" e decidimos entrar para ver como era: um quarto de pouco mais de quatro metros quadrados, com duas camitas separadas e, se a minha miopia não me falhou, com umas manchas de gordura na dobra do lençol...

Voltámos para a confusão do trânsito em busca de novo poiso e, depois de passar por um táxi espetado num poste, lá encontrámos, finalmente, uma pequena praça (El Makhzen) com parque de estacionamento, que tínhamos visto no guia e ficava junto à entrada da Medina. O parque era, afinal, propriedade do Hotel Parador, talvez o maior da vila. Falámos com o guarda do parque que, graças à famosa moedinha, não viu qualquer problema em deixarmos lá o carro até ao dia seguinte. Outro marroquino (eles surgem como cogumelos) vestido de "jeelaba" cor de mel prontificou-se logo para nos levar a um hotel, no qual também não ficámos, por motivos semelhantes aos do hotel anterior. Logo de seguida, indicou-nos o "Hostal Guernica", nome apelativo que se confirmou muito agradável.
Um senhor de cabelo branco e olhos muito azuis deu-nos a chave do quarto 22 e indicou-nos o 3º andar. Subimos por umas escadinhas íngremes de mosaicos geométricos até ao primeiro piso, que tinha uma varanda ao centro que dava para o rés-do-chão, e, dois andares depois, chegámos à "penthouse", um quarto de tecto baixo, limpo e acolhedor, com um terraço com vista para as montanhas.

O quarto tinha três camas e escolhemos uma junto a uma janelinha de grades rendilhadas e cortinas brancas com riscas às cores. Da decoração constava ainda uma mesa hexagonal de motivos geométricos, uns banquinhos e um espelho com uma moldura colorida. Decidimos logo que seria ali que íamos passar a nossa primeira noite em Marrocos, depois de um dia inteiro a viajar... Fomos ao carro buscar as mochilas e quando voltámos estava o senhor da recepção de joelhos e de rabo virado para nós, a rezar em cima de um tapete. Sentámo-nos e fomos apreciando respeitosamente o ritual que durou cerca de cinco minutos... Instalámo-nos no quarto e, depois de um belo duche, saímos para jantar. Descemos pelas íngremes e estreitas ruas que nos levaram até à Praça Uta el-Hammam, o coração da cidade velha e o centro onde convergem as ruas da medina. Tem algumas árvores e, no centro, uma fonte decorada com mosaicos verdes. Em frente ergue-se, imponente e austera, a Kasbah, uma fortaleza do século XV com ameias de terra vermelha e dez bastiões

Entrámos na esplanada de um dos cerca de cinco ou seis restaurantes da praça, todos seguidinhos. Apercebemo-nos, logo a seguir, que os ditos restaurantes não eram mais do que uma cozinha, de onde saíam os pratos quentinhos directamente para a esplanada, a única sala de refeições. Saboreámos calmamente uma Tajine de camarão e um Cuscus de vegetais. Na esplanada ao lado estava uma americana com uns sessenta anos, a insultar os empregados que a serviam e os marroquinos em geral (em inglês), enquanto os insultados respondiam com a mesma moeda, no pouco inglês que aprenderam com ela. O rapaz do nosso restaurante disse-nos depois que ela já era mais do que conhecida na vila, comprou lá casa havia uns anos, bebia e fumava o dia todo, jantava fora diariamente e, com certeza, daria umas boas gorjetas, a julgar pela paciência que os rapazes tinham para a aturar... Na esplanada seguinte, uns velhotes tocavam uma música típica, que se tornou bastante agradável e quase nos fez sentir, no meio daquela praça, numa das mil e uma noites, hehehe...

1 comentário:

Anónimo disse...

Para esta entrada só podia ser...
Janis Joplin - Mercedes Benz

http://www.youtube.com/watch?v=Q-g7Q7hXn7o

:)